Foi como que uma epifania, ver-te
ali, debruçado sobre o teu trabalho, e voltar-me a apaixonar por tudo aquilo
que já esquecera, ou que simplesmente, passava despercebido, pela tua
permanência. Como o livro que já foi ganhando pó na estante. Também me
apaixonei por ele, em tempos, mas terminei-o e deixei ao abandono de si
próprio, sem que o abandonasse definitivamente, por que ali permanece
inanimado, preso em si mesmo e na sua matéria, dando-me permissão para voltar a ele e rever o que
me fez colhe-lo de uma qualquer prateleira de livraria.
Ganhaste, subitamente, magias de
novidade, o teu cheiro familiar parecia-me diferente, a forma como te moves com
gestos diminutos, subitamente, parecia-me reinventada e o teu olhar atento,
aposto a mim, que te olho deste canto, parece-me, então, dotado de um brilho
que nunca te vira trazer. Como se transportasses uma alma que diferia da imagem,
já pouco lúcida e esborrada que tinha de ti, porque a tua constante presença
não me obriga a guardá-la mais lúcida. Sim, mas estas imagens refratárias, que
guardamos, fazem falta, quando vamos no comboio e queremos recordar,
simplesmente recordar, por conforto ou simples passagem do tempo. Hoje a tua
imagem ganhou uma cor especial, os teus trejeitos foram gravados para futuros
devaneios, o som da tua voz ganhou outra força e a forma como concurvadas se
deitam as tuas costas sobre a mesa, fizeram-me apaixonar por ti novamente…
esquecera-me de ti e dos teus pequenos gestos antes de me enamorar pela segunda
vez. Vou voltar a guardá-los, não negligenciá-los, para que nunca me esqueça
por que te amo.