Quando se é professor, para além de uma vida extenuante, é possível conhecerem-se realidades que se desconheciam até aí. Eu, por exemplo, para além de um enorme nervosismo que tento controlar, tenho ataques de pânico sempre que o telemóvel toca e tenho de me apresentar ao serviço. É difícil, para muitos de nós, termo-nos esforçado muito para alcançar a devida formação e ainda mais duro é enfrentar uma das profissões mais exigentes e simultâneamente, uma das mais subvalorizadas no País em que vivemos. Custa muito, horrores, não saber como vai ser o ano seguinte e custa mais ser contratado, a iminência do pensamento negativo, da dúvida que se impõe, apesar de tudo, seremos capazes de fazer o que nos propusemos?
Hoje fui chamada para uma oferta de escola de Português, relativamente perto, a 30km, um horário completo e misto a levar a cabo durante uma substituição temporária de um mês. Não me senti excitada, muito pelo contrário, senti medo e frustração, porque depois de uma pós-graduação tão bem sucedida e um doutoramento iminente, daria tudo para estar na Educação Especial. No entanto, gosto de ser professora de Português, sim, mas tenho medo e tentem, no vosso âmago, juntar emoções tão contraditórias e destrutivas como a paixão pela arte e o pânico, a insegurança de poder não estar à altura. Juntando a todo este turbilhão de sentimentos, um horário com espaços de 6h entre aulas, que me obrigaria, em pelo menos 3 dias da semana, a permanecer na escola cerca de 10h, dois desses dias, com aulas no horário nocturno e apenas uma tarde livre (visto que faria directas entre turnos na escola, pois a gasolina está cara para todos). E, por fim, visto que a substituição da professora faltosa não é apenas visível através do horário exaustivo, a compensação das aulas do nocturno. Se juntarmos a isto a adaptação a um mundo novo, a uma cidade nova, a alunos novos... o pânico tomou conta e não demorou muito até carregar no botão "desistir" e aqui estou eu, novamente, à espera do que há-de vir.
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