terça-feira, 20 de dezembro de 2011

As calinadas do Coelho


Assistia eu, ontem à tarde, ao programa “Eixo do mal”, quando, mesmo antes do genérico, os nossos caros convivas passam o mediático vídeo do nosso Primeiro Ministro a incentivar a população de professores desempregados a abandonar o país. Pronto, vamos ser sinceros, após alguns segundos de silêncio de estupefação, ainda na esperança de vir a aperceber -me de que, afinal, era uma brincadeira de mau gosto… cheguei à conclusão que não era.

Ora, acerca deste assunto, já correu muita tinta e ainda correria bastante mais da minha parte se eu, como professora na iminência de abandonar o meu país, me apetecesse dedicar o meu precioso tempo de desemprego e de Dolce Fare Niente a verdadeiras abéculas ambulantes incapazes de fazer o seu trabalho. Daria apenas um conselho bastante precioso ao Senhor Primeiro Ministro: ir rever, portanto, os estatutos das suas funções, pois parece-me um pouco confuso. Julgo que, neste momento, o Senhor Pedro Passos Coelho parece apenas uma versão falsificada do “Velho do Restelo” com um grande decréscimo no domínio da sapiência.

Se conseguirmos recuar um pouco nos tempos, podemos, sem qualquer sombra de dúvida encontrar a raiz deste problema: a má governação (onde é que já terei eu ouvido isto?). Absorvidos pela abundância de subsídios externos para a formação, não há curso que não se abra em Universidade alguma do país, independemente, ou não, das suas saídas profissionais serem poucas, nenhumas ou escassas. Toca a produzir licenciados e professores que não servem absolutamente para nada. Venham eles, se não estiverem nas escolas, farão muita falta para educar a cidadania atrás de uma caixa de um hipermercado qualquer. Mas agora que o país se encontra em igual estado de lotação numa generalidade profissões, o problema que já existia, agudizou-se  e não há culpados, a não ser as pessoas que investiram trabalho, esforço e 900€ anuais de propinas que se foram fazendo render num cofre qualquer. Portanto, um Governo que não legislou currículos de ensino superior, que não estudou as necessidades laborais de um país e que formou uma série de profissionais qualificados que estão a ficar num armazém qualquer de stocks excedentes, claro que não há-de ter solução para este problema senão a mesma que se repete ao longo da história: queimar os excedentes, ou vendê-los a preço de saldo. Ora, como já não restam muitos lugares de professores a dar aulas quase de borla, resta livrar-nos do que sobra, vamos mandá-los para o Brasil.

Tendo em conta os recentes cortes no Ensino de Português no Estrangeiro, parece-me um dos maiores absurdos linguísticos dos últimos tempos, este incentivo. Citações quase comparáveis às do nosso caro João Pinto.

Admitamos que a culpa do excedente, não só de professores, como de licenciados nas mais diversas áreas, foi de erros de má governação e de fraca fiscalização da gestão do Ensino Superior em Portugal, portanto, resta a quem fez a merda, resolvê-la. E se porventura o senhor Primeiro Ministra julga que efetivamente a solução para este problema passa pela emigração, seria um ato de extrema boa-fé e de redenção esperada, criar condições para a mesma, criar protocolos com os países, proteger os professores que para tal se disponibilizem e conferir os direitos de trabalho equivalentes aos profissionais a lecionar em território nacional. Pois, desculpem-me, mas parece-me um grande grau de ingenuidade e de ignorância, pensar que os professores que estão a emigrar para outros países sem a proteção do governo, estão a dar aulas. A maioria, senhor ministro, está na Suíça a trabalhar numa fábrica de relógios qualquer.

Outro absurdo linguístico: se a malta vai toda embora, quem vai fazer a prova de ingresso á carreira? AhAhAh E só para terminar, com o aumento das turmas no ensino básico, considero que os professores têm excedente de alunos, com base nestas afirmação, julgo que, após prova de competências, se escolham os 5 piores alunos de cada turma e que se incentive à sua emigração para fazerem asneiras num outro país qualquer, onde serão bem recebidos... tenho dito.

P.S. Melhor ainda, o Natal é quando o Coelho (da Páscoa) quiser.

Sem comentários: