sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O dia em que quis roubar a lua

Corre escada abaixo com o casaco ainda meio por vestir, secretamente em fúria consigo própria, galga cada degrau como se fosse aquela escadaria infinita. O saco à tiracolo escorrega a cada súbito movimento... alcança a saída daquele cinzento bloco de apartamentos e, enquanto aperta o cordão numa pressa atrapalhada, olha o céu lacrimejante e escuro... Um bom dia para perder a esperança!

Cativa de todas as superstições, entra numa forçada crença, com o pé direito no carro que a vai conduzir aos seus sonhos mais anseados. Não pega, é sempre assim nos dias frios, custa um pouco, pensou enquanto se acomodava... Olhou o vazio à sua frente, enquanto esfregava as mãos, artrito que afastava o frio, e finalmente seguiu viagem.

O vizinho olhara-a com desdém. Aquela rapariga passava sempre despercebida, com os olhos presos no chão, sempre distraída e trapalhona e um tanto mal-humorada. Por isso é que não há-de ter sorte na vida, é humana - sofre de humores.
No entretanto, pensara ela que não ter cumprimentado aquele estranho homem, não haveria de ser bom agoiro... Não havia sido exemplar, como raramennte o é (Por isso é que não hei-de ter sorte nenhuma - pensou, num silogismo fatalista).

Um estranho pressentimento a abalava hoje... Mas seguiu caminho apressada, mais uma vez atrasada, batia na porta dos estranhos à procura dos sonhos que perdera...

- Desculpe, tem o meu sonho guardado por aí?
- Não! Vá-se embora - dizia a voz zangada do outro lado do óculo.

- Desculpe, não sei dos meus sonhos, pode ajudar-me?
E uma porta mais se fechava contra o rosto da jovem que perdera os sonhos...

Com uma afabilidade inusitada encarava estranhos, carrancudos, exigentes, corruptos pares que nada mais lhe diziam que NÃO...
Galgara km, já o fizera antes, mas hoje caminhava desalentada e olhava o seu reflexo desajeitado nas poças abundantes, que a chuva formava a seus pés... Pesada, voltou a casa, carregando não mais que o seu saco à tiracolo, vazio porém de sonhos e de projectos, vazia ela mesma... Fitou o firmamento com os olhos entreabertos, perante as gotas que caíam daquele céu tão torturado quanto ela. Viu nascer um pequeno espaço, onde a tímida lua e uma estrela solitária se fizeram ver... quase as quis tocar. Por momentos, quis subir bem alto na escada que construira na busca dos sonhos mais profundos e quis roubar a luz daquela lua, usá-la como lanterna e privar todos os demais da luz que há muito as nuvens lhe bloqueavam.
Mas invadiu-se-lhe um alento, uma esperança no dia em que o céu se poderá abrir, nem que seja por uma nesga, para assim poder tocar a sua sorte, a sorte que era a dela... A sorte que ainda não veio, mas que há-de vir.



2 comentários:

Anónimo disse...

Dasse, quando for grande quero escrever assim! ;) Já fui e sou muitas a menina que quis roubar a lua... e o euromilhões... Fogo, não posso dizer nada bónito que estrago logo tudo a seguir... Vem, vou embora antes que tu veijas que eu tou online no msn no trabailho e mandas-me para o ca, para casa ;)-

Anónimo disse...

Andreia, Andreia... escreve no teu blog e não venhas para aqui aparvalhar:)
Eu já quis roubar a lua, mas agora vou ver se roubo o sol para ficar bela e bronzeada para o próximo Verão:)