sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A voz do nada

Quase que pude tocar a ponta das tuas emoções, mas à distância que te vejo, apenas te alcanço num olhar esforçado, de olhos semicerrados como torturados pela luz do sol…

A voz enrouquecida já tu não ouves, por entre os ecos que os nossos gritos mudos plantaram por aí.

Os caminhos labirínticos que percorro, já tu não os procuras, plantaste-te junto ao muro mais alto e impenetrável que encontraste.

Os olhos não se falam, as palavras já não se encontram, já não sorves os meus sorrisos, já não bebes da minha alma…

Batemo-nos numa inércia profunda, gritamos palavras surdas, arrancamos os corações que apenas batiam em razão de um ódio que já nem sentíamos.

Ouvimos a voz do nada...

Atravessámos pontes sem rios, saltamos trincheiras derrubadas, voamos sob o solo que nos reprimia e erguemos muralhas furadas.

Fugimos, porém, estanques na nossa própria fúria e chegamos, então, a lugar nenhum… onde do nada nos recriamos, onde erguemos um passado inexistente. Transportávamos, no entanto, naquele presente, as marcas infligidas por aquela adaga sem punho… ambos acabámos feridos... nenhum, apaziguado.


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