Eis que se aproxima o término de mais
um ano, ainda jovem, este milénio, mas já com tanta tinta escorrida a marcar
história. À imagem de amos anteriores, é tradicional olhar retrospetivamente
para o ano que nos deixa, analisar as conquistas, as perdas, as desilusões e as
alegrias de forma a definirmos um esboço para o novo ano que se aproxima.
Resoluções de novo ano, desejos, necessidades são então entoados, em uníssono,
com as doze badaladas do dia trinta e um.
Num ano em que assistimos a
escândalos políticos, presenciamos também um casamento real. Num ano em que a fúria
da Natureza nos trouxe tragédias como terramotos, inundações e maremotos, mais
um avanço na cura para a o HIV foi feito. Num ano em que a pobreza aumentou
significativamente, um pouco por todo o mundo, a ajuda humanitária atingiu
níveis históricos.
Terminado um ano assim, nós que temos
a possibilidade de cumprir todos os rituais que cabem à data, resta-nos subir
às cadeiras, agarrar num punhado de uvas passas para as engolir resignadamente
enquanto, em frações de segundos, planeamos um novo ano, independentemente dos
desígnios desse tão imprevisível destino.
Perante o que vivenciamos no ano que
agora termina, julgo que nos cabe olhar os tempos vindouros com um relativo
otimismo. Carpe diem: aproveitar cada
dia, como se fosse último, mas esperando sempre o dia de amanhã e acreditar,
piamente, que, depois da tempestade, surge sempre a bonança. Sabedoria popular
ou conhecimento empírico, a verdade é que, a cada ano que por nós passa,
inúmeros são os motivos que nos levam ao chão: desastres, tragédias, perdas
pessoais, insucessos, instabilidades, mas certo é que, como tudo no Universo,
dos planetas, aos astros, nada é eterno e a temperança surge sempre com o seu
natural efeito catártico, limpa-nos a alma e torna-nos resilientes para
enfrentar novas lutas e obstáculos.
É certo que, tal como muitos de nós,
olho para o ano que passa e relembro um ano especialmente árduo, custoso, cheio
de dúvidas, complexo e até mesmo triste, mas certo é que estamos a terminá-lo
sem que tenhamos sido vencidos. É portanto, natural, que entremos, relutantes
no ano de 2012, mas, visto que já tomamos um ano como exemplo, enfrentemos os
próximos dias conscientes da dificuldade que encararemos, mas crentes que poderemos
operar a mudança e alterar o nosso próprio destino. Parte de nós fazer com que
2012 seja um ano bem mais positivo, apesar da austeridade, corrupção,
promiscuidade ou ilusão.
Por isso, este ano não peço uma casa,
um carro ou dinheiro. Se voltarmos às nossas raízes, ao âmago de quem fomos
outrora, aos nossos instintos mais básicos, saberemos que a resolução para
estes tempos está no altruísmo que possuímos. Se partilharmos, seremos menos os
desfavorecidos. Se sorrirmos, serão menos os deprimidos. Se auxiliarmos, serão
menos os incapacitados. Se dermos, será menor a necessidade. Se olharmos para o
lado, serão menos os solitários. Se perdoarmos, serão menos os julgados. Se lutarmos,
serão menos os oprimidos. Se nos unirmos, seremos mais. Se mantivermos o
otimismo, seremos fortes. Se operarmos a mudança, seremos imortais. Se formos
criativos, seremos mais dotados. Se amarmos, certamente seremos retribuídos.
Correndo o risco de, por superstição,
aqueles desejos não se concretizem pela exposição de que foram alvo, ainda
assim partilho-os aqui, para todos os que quiserem copiar. Porque são desejos
meus, mas universais, que não se desgastam ou terminam e inevitavelmente,
tornam um mundo cinzento num lugar mais belo e propício a habitar.
Sem comentários:
Enviar um comentário