Novamente o vocábulo sonho. Utilizo-o muito, bem sei, mas talvez porque o plano onírico me pareça, agora, e mais do que em tempo algum, mais agradável e até palpável do que a realidade para a qual acordo diariamente. Parece que deambulamos vagamente por um pesadelo à moda de um qualquer filme de terror hollywoodesco. Corrupção à esquina, agonia a cada passo e o iminente sentimento de medo e de angústia que nos segue e que nos toma. No futuro, mesmo no mais próximo, apenas a dúvida, ou a breve certeza de que aquele não se avizinhará melhor e, do amanhã, não muito a dizer, a não ser que, caso exista, será um dia, talvez como os outros, repetido à conta de rotinas que forçamos para que nos sintamos vivos ou sobreviventes.
Eis que a noite espreita, o silêncio, a passividade de um mundo que já dorme lá fora destas portas e janelas. A certeza de que o caos cessou e que ultrapassamos, ainda que fatigados, mais uma batalha. Por enquanto poderemos repousar, mas o nascer do sol trará um novo dia, uma nova indefinição, mais incertezas e novas angústias. E é nos sonhos, no espaço que tomam nessa noite, que procuramos uma nova oportunidade de encontrar os lugares onde fomos já felizes, os momentos que aspiramos e as ambições tão puras que carregamos nos nossos ombros e que a realidade não nos permite concretizar... É nesse momento, na altura em que acordamos das nossas ficções, que os sonhos e ambições deixam de ser conceitos aprazíveis, para se tornarem em duros fardos, dos quais, simplesmente, não nos queremos livrar. Pois, pelo menos nesses lugares,não somos reduzidos à condição de mortos-vivos que este nosso pesadelo tão vívido nos transformou.
Foto por: Medeia
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