Hoje quis, simplesmente, deixar de ser quem sou
A sombra do passado que transporto
Do presente que suporto
E do futuro que aquele me privou.
Hoje quis ser quem nunca fui
Ter sentido o que nunca senti
E percorrido os caminhos dos quais fugi.
Hoje quis desistir de quem tenho sido
A iconografia das memórias alcançadas
O esquiço imperfeito das ações inacabadas
Hoje desiti do que seria
Se o meu mundo em dolo não me largasse
E tudo o que sonhei enfim não desabasse…
Hoje, o eterno dia sem fim,
Que o sonho e o amanhã arrebata
E se repete e destrói e mata
Um pouco mais do que
há em mim.
Ter as estradas cortadas, os desvios inalcançados
As portas abertas que me entalam, os alpendres selados
As paredes que não existem, os muros do nada levantados
Os labirintos redundantes, os percursos alterados
O ser eu todo, no espaço que me limita
Agrilhoado às pedras dessa encosta
Sempre o mesmo presente que me assombra
Sempre as preces mudas na penumbra
Sempre o grito inaudito sem resposta…
O presente que dolorosamente se desgasta
O amanhã nulo
E a clausura neste tempo… basta!Simplesmente basta!
E a clausura neste tempo… basta!Simplesmente basta!
Sem comentários:
Enviar um comentário