sábado, 26 de maio de 2012

Alegoria


Tudo alcancei, mas nada terminei
Tudo envolto numa estranha imperfeição,
Ou incompreensão, chame-se lá o que quiser…
A indiferença, ou a cobiça disfarçada
A desvalorização ou a inveja dissimulada…
Só sei que nada tenho, que nada alcanço, que nada possuo e, assim me parece, num fatalismo extremo, que nada valho…
Fico-me pelo que tenho, tantas vezes pouco e pelo que tentei, mas nunca terminei. Invariavelmente, a que tudo fazia, a que tudo sabia, a que tudo podia, mas que nada mostrou. Como se fossem um conjunto de boatos entregues pela boca desconhecida ao ouvido, sem qualquer confirmação digna. Como se pouca concretização encontrasse, como se num vácuo habitasse, com o ar falasse. Como se numa realidade alterna aguardasse, impacientemente, que esta se cruze com aquela onde os outros deambulam… até lá, amontoo tralha, desta que produzo e que as vozes que parecem sussurros e as sombras que parecem espectros me dizem que vale a pena ver, verdadeiras pérolas da sociedade escritas em folhas rotas que ninguém lê. As pilhas de papel amolgado (as ideias tortas, postas de lado), a máquina de escrever enferrujada e cansada, as letras meio transparentes, a sombra apenas do que escrevi e o rasurado das palavras que, simplesmente, não são as ideais. O corpo em dormência desta posição em que escrevo, vergada, nesta caverna, onde mal me levanto, onde sou gigante para o espaço que me confina, onde mal me mexo, onde não falo alto, por poder importunar os vizinhos, onde apenas as sombras me chegam e breves grafemas partem…


Fonte: http://vekquin.com/analysis/ (25/5/2012)

Sem comentários: