Eram bancos de pedra irregulares, cinzentos e frios onde nos
sentávamos tão desapegados da ideia de desconforto que esses agora nos trazem,
porque nos fazem quase doer o espírito de tão martirizados com as
irregularidades que nos cravam no corpo, mas que ainda assim, não superam a
dormência das pernas extenuadas. Devemos ter andado uns bons metros em subida
acentuada e caminho íngreme que nos fazia, a cada passo mais negligente, torcer
os tornozelos em cambaleio atrapalhado. Quando éramos pequenos, de corpos
escanzelados, com fome dos chocolates que nos vinham à ideia mas que nunca nos compravam,
não havia inércia que nos batesse, subíamos em corrida fervorosa, invalidando
sempre quem a vencia e humilhando o “ovo podre” que não havia reunido agilidade
suficiente. Costumava ser eu a última, mas não me importava, era tudo uma brincadeira
e queríamos era alcançar aqueles bancos, os cinzentos de pedra e frios, que,
agora que estávamos próximos, depressa se alteravam. Em caos de voz
dissonante, como quem discute, mas não leva nada a peito, crianças que
éramos, questionávamo-nos, como se de arte abstrata se tratasse, em que realidade
alterna, se tornaria hoje o banco. Seria um trono real? Seria a bancada da
cozinha? A cama de um urso ou o leito de morte uma princesa que não morria
efetivamente? Tantas vezes foi coisa diferente, aquilo que não passava de um
banco e que hoje nos incomoda, tampouco nos afaga as dores nas pernas,
destronadas pela subida efémera que, naquele tempo, quando éramos feitos de
recheio de felicidade espontânea, era um ataque às fortalezas alheias, do qual
saíamos sempre em vitória irrefutável, sem mácula, sem mágoa ou arranhão.
Numa escassez de tempo do qual perdemos conta e a noção da
sua passagem, como se corrêssemos saltando barreiras até aos dias em que nos
encontramos agora, perdemos a visão e as magias de novidade que todo o objeto,
ser vivo ou realidade transportavam e a polivalência a que cada um cabia.
Tomou-nos uma cegueira seletiva, formatada, que apenas nos deixa ver a
realidade da utilidade das coisas, dos humanos e das árvores, para lá da sua
utilidade, nada existe, nada nos interessa e não é mais do que isso, tal como
as palavras que ouvimos, lemos ou lembramos não passam de mensagens e recados
em jeito de lista de compras ou ladainha decorada. As coisas são o que são e
valem apenas por isso… Pensar para além deste conceito, é próprio das crianças
e dos loucos e ainda bem que ainda os há, aos dois…
Fonte da Imagem: http://browse.deviantart.com/?order=9&q=stone+bench&offset=72#/d17qnht
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