Faz frio... e, enquanto vejo o bafo exalar da boca, ouço a
conversa que tenho comigo mesma. Há muito que já não falava comigo, para
dentro, em voz baixa ou em surdina com a minha mente ou com a alma que trago.
Estamos sós, ouve-se o ranger das palavras e o ruído dos pensamentos que não
contemos. Já não te via há muito tempo e, desde da última vez que te falei, as
respostas eram diferentes. Altercavas por demais, ó alma, agora sossegaste,
quase passaste de espírito a gente, como se a vida te amestrasse, que nem leão
amarrado nessa jaula que não te deixa sair para lá do espaço cercano, cárcere
onde, enfim, todas as essências como a tua acabam fechadas. Escapa-se uma, de
quando em vez, e toma a pessoa que a transporta, mas é raro que tal aconteça.
Guardam esses ânimos cães de três cabeças… Coisas assim não podem sair à rua, é
essencial que se calem, lá dentro das pessoas que as trazem. Não te cales
portanto, ó alma, não deixes que eu própria te asfixie de vez…
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