Ouve-se, vê-se, cheira-se, saboreia-se e quase se pode tocar…
É o ranger desse chão envelhecido que calco com os pés em
palmilhas, nas minhas memórias, pequenos, só lhes vejo as pontas redondas,
aconchegadas nas meias caneladas. Os gritos dessas dobradiças teimosas,
que insistem em deixar as frinchas abertas para que eu possa espreitar. O
bulício abafado pelas paredes e os risos distantes que ecoam na minha mente.
Os
corredores escuros e os quadros envelhecidos pela humidade e a inconstante luz
do sol… e o resplendor daquela janela virada ao mar. O cheiro a naftalina, o da
terra molhada do pinhal e a maresia que corria nas noites abafadas do verão, odores
juntos que se transformam em perfume distinto… o aroma das minhas memórias…. O
cheiro a café que se extingue no ar, junto ao do pão quente, acabado de fazer e de benzer. E o paladar dos maracujás que arrancávamos
ambiciosamente da sua planta, como se de estranha e limitada iguaria se tratasse.
A sensação de que tudo e todos são maiores do que
nós, alcançam o inalcançável, roçam o intangível e chegam aos lugares mais remotos. De quando em vez, o vazio na barriga de quando nos tomavam nos
braços e nos atiravam ao etéreo… Ia jurar que voei, mas que o ar me trouxe de
novo para baixo. A sensação de coragem, que se foi perdendo e a certeza
infundada de que aquilo seria só o começo, as primeiras páginas esboçadas de um
conjunto de imagens estáticas que vamos guardando, em jeito de livro de
recortes, das memórias que fomos e vamos fotografando.
Eight Senses by Peter Dranitsin
Fount: Fineart America
Sem comentários:
Enviar um comentário