Manda-te o imaginário, ainda vivo, que te agarres à
pretensão de sonhar. Que destrones aquele terror autoritário, que de tão despótico
já te puxa as pernas, as linhas de pensamento, os pretextos e os argumentos.
Foste atirado ao chão, ao chão que pisas, que em algum instante foi teu - ou
ainda é. Encontras-te agarrado às pernas dos lampiões definhados - os quais circunscrevem uma luz defunta, de um amarelo quase hepático, ta apontam à cara e te interrogam a existência, lá do fundo do barulho das luzes; esses lampiões que te
empurram para chão, esse que não é teu, do qual separas os pés no medo de
incorrer em invasão do espaço que ali só poderá ser da sobriedade de quem o pisa…
é melhor não o pisar. Não vá alguém reparar que trago coragem apertada no punho, o qual arrebata qualquer movimento que a tente roubar. E o teu rosto puxado ao de
cima por quem não te estende a mão (e sabe-se lá de que cor o cansaço o terá
pintado… esse teu rosto desbotado). Mastigas o medo que te deixou ali plantado,
no meio de lado nenhum, numa rua com lampiões, aqueles, os das luzes hepáticas
e engoles a coragem mascavada sem mastigar a aspereza que a compõe, talvez por estar amargada pelo
tempo que andou exposta às expirações poluídas dos outros, dos que não estendem
as mãos. Já pensaste que levam malas cheias do ânimo que foram apanhando ao pé
de casa (costumava nascer de forma espontânea, mesmo ao lado dos dentes-de-leão),
de pétalas rosadas das paixões que encontravam nas praias (junto aos segredos
que contava o marulho das ondas) e da coragem em grão, da que vais engolindo
para que não te suma toda (essa havia-a aos magotes, vendia-se avulso ou em
pacotinhos como os de chá)? Não te poderiam dar as mãos. Há que nunca abandonar
aquelas malas cerradas pelo tempo e pelo medo de deixar sair o que lá
permance à mercê do tempo que estraga as coisas, bem sabemos. Não há que
abandoná-las, muito menos ao pé dos lampiões que parecem gente bulímica, não se
estenda de lá um membro regenerado de um metabolismo particular qualquer que só
caberá àqueles objetos, que de lânguidos e de cabeça erguida, deitando luzes
enfermas e vigilantes sobre um círculo imperfeito no chão aos cubos, se parecem
a gente, daquela que anda a apanhar molhos de ânimo nas bermas da estrada, dos
que havia mesmo ao lado dos dentes-de-leão… e coragem, daquela expirada em
validade que eu e tu vamos engolindo para que as palavras não se emudeçam, no
hermetismo do espírito que não vai ser plantado ao pé dos dentes-de-leão, e que
por isso, por se esconder na cave do corpo que revelamos, é difícil tocar com
os pés no chão. Sabe-se lá, as luzes podem ter olhos. Ninguém sabe o que existe
no fundo das lâmpadas que nos vigiam e aleijam as vistas quando as tentamos
olhar nos olhos numa conversa entre o silêncio do nosso ânimo amestrado e o
barulho monocórdico que as luzes cantam.
Fonte: http://www.deviantart.com/art/dandelion-field-84895427 (2/08/2013)
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