A loucura chegava-lhe aos pés e ela insistia em guardá-la num saco bem
atado, não fosse alguém ver. Via-se ao espelho e lembrava-se de como
dantes aquela loucura lhe ficava tão bem. Decidiu cortar os pensamentos à
moda dos outros, diziam-lhe vezes sem conta que lhe iria ficar bem… e
fica. Mas a verdade é que tem sempre saudades do bem que lhe ficava a
loucura e cortou-a tanto que se deixou ficar igual às meninas das
revistas, essas que são mudas, sorriem no vazio e cujos olhos perseguem
os movimentos dos outros. Nunca mais viu ao espelho a loucura que dantes
trazia, mesmo quando a tirava do saco, não se passava mais que um
espetáculo bem ensaiado. Está fechada, que nem espetro do que foi, num
mundo cénico onde era apenas convidada e passou a ser anfitriã: dá as
boas vindas aos que têm loucura longa e diz-lhes como ficariam bem como
ela.
Sem comentários:
Enviar um comentário