Saio por aí… Procuro em gente sem rosto, a valorização
consentida daqueles que me desconhecem, que não me querem conhecer e que fingem,
de forma visível, não me querer ver.
Somos aqueles que andam perdidos pelo meio de uma multidão
com rosto de não, tentando ultrapassar o caos até à morada mais próxima dos
nossos corações. Mentes conturbadas pelas intermitências dos lugares que mal
chegamos a olhar, relances da memória, registos voláteis daquilo por que
passamos na busca de um assentimento. Já nem me recordo por onde andei ontem,
nem que céus se ergueram sobre mim. Os chãos que piso são sempre os mesmos e os
rostos de negação não se alteram. Sou cópia de um outro, a sombra transfigurada
daquela que outrora começou esta busca. Olho o chão, os passos lentos que se
estendem em lamuria no solo lamacento, deixando para trás marcas, neste labirinto, para que
possa talvez regressar... Os momentos são já memórias e o presente é tão
volátil quanto o passado que fui deixando para trás e incerto como o futuro que
nem sei mais se existirá… porque, hoje, estou presa a um presente estanque,
dado a repetições bulímicas e a semblantes copiados, os rostos que se retomam e
que não nos deixam avançar, que nos empurram, não nos permitindo escapar deste momento que não acaba até que se inicie novamente, em movimentos cíclicos, iguais aos das nossas pernas cansadas e ao movimento do relógio que todos os dias, não mais nos oferece, do que as mesmas horas... esses rostos que nos travam e que nos agrilhoam às pedras cinzentas deste chão... os rostos do não...
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