Todos rotos e esfarrapados por dentro
que nós estamos.
Já nos olhamos sem reconhecer o
mérito que nos distinguia ou sem saber que qualidades transportamos, porque num
mundo de gente que não sente, que não olha para o lado e que não estende a mão,
os conceitos de defeito e de virtude imergiram e não se conhecem mais as suas
diferenças.
Valores, só os que transportamos, os
que podemos contornar com a ponta dos dedos, e quanto maior e lavrado for o
artefacto, maiores serão as atenções que sobre eles recaem. E assim confundem
os humanos com o ter, o haver, o ser e o existir. Virtudes, nem as reconhecemos
mais, ocupamos todo o espaço anarquicamente dirigido por nós, com os nossos
egos desmedidos, não interessa que o limite de um ultrapasse o limite do outro,
porque até essas fronteiras se diluíram em razão do estado de submersão em que
vivemos. Num mundo assim, existimos até onde não existir mais nenhum pedaço de
mim e não até onde o outro coexiste comigo.
Deambulamos, sem qualquer motivo,
razão ou motivação, empenhando as esculturas que nos dedicaram e mostrando o ego
que cresce desmesuradamente enquanto nos vamos transformando em narcisos
mutados, como que num decadente desfile de excentricidades participássemos.
Misturamo-nos arabicamente lutando cada um e por si só e apenas por aquele
lugar debaixo do foco. Para lá permanecer numa porção irrisória de segundos
apenas, porque num mundo em que nada se esconde, à inveja nenhum escapa.
Penhoramos os nossos valores às
aparências, hipotecamos as virtudes reais e os nossos dons às banalidades e
agora, que é chegada a hora de pagarmos a conta, caímos nesse espaço vazio, que
nem trapezistas sem rede. Os que não se mantiveram neste fervoroso
egocentrismo, reduziram-se até eles mesmos, e numa sociedade em que cada um é
tão grande quanto mostra, ficamos pequenos, cansados, aniquilados… quase em pó…
não chegamos para os gigantes que cresceram, enormes por fora e ocos por
dentro. À primeira bafejada caem e partem-se que nem loiça chinesa, para
chegarem à conclusão que não eram metade do que julgavam e subiram a um patamar
mais elevado do que as suas pernas alguma vez o permitiriam ou escada qualquer
poderia suportar.
Porque irremediavelmente nos
passeamos numa feira de vaidades, em que o mais vaidoso é o vencedor,
aparentamos ser primorosos, mas não somos nada mais que rotos e esfarrapados,
raivosos e esfaimados, por dentro, ávidos do nosso próprio proveito, mesmo que
este não venha de nada, de coisa alguma, de um bocado de ar ou de um simples
soluço que deixamos escapar…Uma vez partidos e quebrados, de egos defeitos e de
aparências arrastadas por esse chão arenoso, não nos resta nada a não ser o vazio
que nos foi enchendo de ar. Os que eram pequenos, são grandes agora, cansados,
débeis e espezinhados, mas cheios por dentro, desde o triz mais fino até à
protuberância mais percetível das suas almas...
Foto:
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