Quisera eu ficar estática, vislumbrar o movimento do mundo
que, apesar de todos os sulcos e lombas, não se cansa de rodar. Passarem por
mim as imagens rarefeitas desse tempo dessincronizado do meu, esse estático, inerte,
límbico… Imagens translúcidas, em jeito de desaparecimento, porque cada vez
mais este meu refúgio se transforma no mundo que quero habitar e o outro, que
vejo ao longe, a realidade paralela. Reparei que as sombras são cegas, não me
vêm nem se vêm umas às outras. Tropeçam, cruzam-se nos caminhos e só sentem o
bafo de quem se aproxima. E eu aqui… na fronteira que me separara deles e do
fio ténue que me afasta da loucura… vou ficando por aqui, neste trilho
estreito, movimento-me pé ante pé, talvez ninguém dê por mim, guardando o
silêncio que os gritos abafados interrompem. Tapo os ouvidos, debruço-me sobre
o meu próprio corpo e aguardo… aguardo que o silêncio não me fira e que
encontre nele, enfim, a comodidade que tantas vezes ele e a indiferença que
arrasta não trazem.
2 comentários:
Que texto imenso...
Obrigada por esse teu comentário Filipa e, por tal avanço, me levares a conhecer o teu tão encantador espaço, com tantas lições... voltarei lá também muitas vezes :)
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