quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"... talvez o amor seja a mãe de toda a coisa viva." (12/05/2008)

A Elsa não está no escritório a dar-me o que fazer, o Alves saiu e diz que volta por depois das 17h. Resta-me o Manel, filho da Elsita, agora meu companheiro de horas mais mortas e companheiro de aparelho (se bem que já tirei o meu, mas acaba-se por se ficar com um certo sentimento de solidariedade daquelas horas de angústia que passávamos na cadeira do ortodontista de boca escancarada).
Continuando...
Dediquei-me à leitura, à leitura de um livro que deixei pendente, "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.", de Mia Couto. Deixei-o pendente porque, na minha memória, reaviva sempre a morte do meu avô, dor que evito sentir... mas tornei a lê-lo e só me arrependo de não o ter retomado antes, a visão das emoções e sentimentos humanos, apropriados por pessoas simples, oriundas de Moçambique, fazem-nos repensar na vida que temos levado... e a frase do título fez-me pensar...

... talvez o amor seja mãe de toda a coisa viva...

Temos origem no amor, não resta dúvida, somos fruto de algo muito belo, vivido intensamente, embora nos pareça estranho, por vezes, falarmos da relação dos nossos pais desta forma... mas é a verdade, somos parte de uma segunda geração que, também ela pensa deixar legado...

No entanto, julgo que o amor é responsável por mais do que isso, é responsável por nos dar vida… se pudéssemos contabilizar todas as emoções que partem de um sentimento tão banalizado como este que tenho vindo a falar...

Gosto de relembrar o primeiro amor na adolescência (talvez por pensar que, é nessa altura que vivemos realmente e não na idade adulta que, como numa convulsão masoquista, nos enchemos de responsbilidades que não nos permitem viver, mas sobreviver)...as parvoíces que fazíamos, os sofrimentos avulsos a que nos acometíamos, por amar (se é que era amar) em demasia, exacerbadamente.

As mãos suadas, os rostos ruborizados e o corpo trémulo...
O desejo, por vezes lascivo, de deixar tocar os lábios vermelhos do sangue palpitante nos do outro alguém, por segundos que fossem...
Sentir o peito arquejar e a respiração sôfrega da ânsia que nos corre nas veias.
Uma tentativa falaciosa de se tentar esquivar dos braços que nos apertam, para retornar a eles em força redobrada...
Tornar a tocar os lábios... sentir a respiração do outro, halo da vida...
Deixar os corpos tocarem-se timidamente, à medida que a intensidade do beijo aumenta...
Medir as forças num abraço... trabalhar a astúcia com a ponta dos dedos e sentir a alma de alguém... a alma que se faz inspirar de todas as mesmas emoções...

E, no pequeno instante em que tudo isto decorre, perder-se no tempo, perder-se no espaço e prender-se apenas a um momento presente, que pode ser muito curto e fugaz para que o possamos reter na memória. Por segundos, minutos, horas, vivemos tudo intensamente, sem que nos apercebamos disso no interior de todo o nosso amorfismo...

Pois o tempo só nos passa ao lado quando vivemos e o espaço só nos parece indiferente quando partilhado com alguém que nos faça sentir vivos...


Não nos esqueçamos então de viver intensamente... amando:)

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