sábado, 7 de fevereiro de 2015

Espectros de loucura

A loucura chegava-lhe aos pés e ela insistia em guardá-la num saco bem atado, não fosse alguém ver. Via-se ao espelho e lembrava-se de como dantes aquela loucura lhe ficava tão bem. Decidiu cortar os pensamentos à moda dos outros, diziam-lhe vezes sem conta que lhe iria ficar bem… e fica. Mas a verdade é que tem sempre saudades do bem que lhe ficava a loucura e cortou-a tanto que se deixou ficar igual às meninas das revistas, essas que são mudas, sorriem no vazio e cujos olhos perseguem os movimentos dos outros. Nunca mais viu ao espelho a loucura que dantes trazia, mesmo quando a tirava do saco, não se passava mais que um espetáculo bem ensaiado. Está fechada, que nem espetro do que foi, num mundo cénico onde era apenas convidada e passou a ser anfitriã: dá as boas vindas aos que têm loucura longa e diz-lhes como ficariam bem como ela.