domingo, 30 de outubro de 2011

Mudei a cara ao nosso pequeno espaço

À conta do tempo que insiste em não passar, decidi dedicar-me a tornar este nosso espaço, mais acolhedor, mais significativo e genuíno, para quem por cá passa. Espero que gostem... Peço desculpa por não usar cores claras, bem sei que causa um pouco de confusão, mas gosto mesmo muito dele assim...

Deu-me um especial gozo construir o cabeçalho, também ele um pouco intimista e dedicado às parcelas da vida que me tornam imensamente feliz e realizada.


 Vou ficando à vossa espera!




Redução da componente lectiva pela idade e tempo de serviço

Dada a situação dos professores na actualidade, e visto que este tipo de situações devem ser divulgadas, posto, seguidamente, um link a que todos os docentes que têm direito a reduções, devem aceder. Desta forma poderão conhecer os seus direitos e, como um colega afirmou, reclamarem-nos, não só como resposta à conjuntura actual que, em nada favorece professores (do quadro ou não), mas também, na tentativa de criar mais horários para os docentes contratados que, este ano, mais do que nunca, enfrentam grandes dificuldades.

http://www.sprc.pt/default.aspx?id_pagina=1347

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


"Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto."
(Edgar Allan Poe)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Da precariedade à insignificância

Nos dias que hoje correm (lentos, demasiadamente lentos), pulsa-me nas veias um sentimento de injustiça que não consigo superar ou fazer com que se evada da minha mente. Julgo que, desde que nasci, fui colocada numa casta silenciada e de lá não consigo sair. É como se tivesse escalado até ao limite mais alto e que, o fosso que se interpõe entre o local onde estou e o patamar para onde pretendo ir, fosse maior que a minha flexibilidade pudesse aguentar.

Toda uma sociedade em tumulto! Teremos de abdicar dos subsídios, muitos, das suas mordomias ou reformas vitalícias que, por si só, pagariam os subsídios aos demais... e dei então comigo a pensar no seguinte: escolhi ser professora (mas agora que penso, acho que essa decisão me perseguiu, para bem ou para mal). Não consegui ainda a estabilidade de muitos, como é óbvio, porque ainda não cumpri assim tanto tempo de serviço, mas, sem maior sucesso na procura de outro tipo de empregos (leia-se: todo o tipo de empregos).

Pouco tempo depois, acomodei-me à ideia do sacrifício: que teria de ser assim, para alcançar fins maiores... Outra vez o fatalismo árabe ou até mesmo a utopia religiosa da auto flagelação como caminho para um paraíso que mais se parece, nos dias de hoje, com o Inferno de Dante. Mas o facto de termos direitos expressos em código de trabalho e na Constituição Portuguesa, como são o caso da indemnização por caducidade e os subsídios, tranquilizava-me a mim e à minha carteira.

Porém, recentemente, é-nos anunciado um fatal destino ditado pelo OE/2012 e comecei, definitivamente, a fazer as contas.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA:
(Hipotética porque ainda não tenho colocação e não posso tomar um exemplo real)

Sou colocada perto de casa (que para mim é a distância a que estive no ano anterior - 40km) com um horário completo numa substituição por maternidade (na melhor das hipóteses), ou seja, um contrato bondoso de 5 ou 6 meses (isto se não se sobrepuser a Julho e Agosto, porque o senhor Crato não nos quer lá nessa altura).


1373,13€ (valor bruto, sem descontos) X 6 = 8238,78€


Ora, como não tenho direito a mais subsídio nenhum e como já estamos quase no fim do ano e nem sequer prevejo uma colocação breve (e julgo que para o ano seguinte, a situação estará pior), posso partir do princípio que, em 2012, como uma portuguesa precavida, tenho de fazer render este vencimento por 12 meses (isto sem contar com os 200€ de gasóleo mensais, a pobre alimentação e a merda das SCUT, imagine-se quem tem de se mobilizar para fora de casa e para além das contas na sua morada original, ainda tem de pagar contas numa segunda morada, como eu não faço isso por falta de retaguarda económica, só posso equacionar esta situação). Portanto, pontos nos "is":

8238,78€ / 12 = 686,56€

Ora, com base nesta situação hipotética que, muitos dos meus colegas sabem afirmar não ser a pior de todas que podem calhar em rifa (baixas de um mês seguidas de azares em bolsa de recrutamento - por azares, entenda-se compadrio -, etc), eu chego à conclusão que, como funcionária pública, o Estado não irá efetivamente pagar-me mais de 1000 euros mensais (isso só acontece se nos cingirmos aos meses em que, de facto, trabalhamos, pois o Estado não tem obrigação nenhuma para com um contratado que, tanto quanto sabe, num ano de trabalho pode até só ficar um mês colocado).

Gostava então de saber se alguém sugere soluções para explicar, ao Sr. Nuno Crato e companhia, a situação que já não é precária, mas miserável, dos contratados que, como eu, anseiam uma substituição por maternidade ou doença prolongada (com todo o respeito pela parte lesada). E fazer-lhe as contas para, se identificar que, teoricamente, não ganhamos mais de mil euros por mês, era bom não era? 

Será que quando apresentar o meu rendimento bruto (brutalíssimo!!!!) em modelo próprio de IRS, as finanças me pagarão os subsídios de Natal e de Férias que ficarão em dívida nestes próximos dois anos, face aos meus rendimentos? 

Agora num tom menos jocoso, há coisas incompreensíveis... Mas representamos o mais baixo de todos os escalões na hierarquia da docência e, muito provavelmente, e em comparação com outros membros activos da sociedade, não tardaremos efetivamente a ser uma das camadas mais baixas da sociedade. O silenciamento que nos cala, é pior do que uma repressão ou uma mordaça em torno das nossas bocas... é a total ignorância e desrespeito por uma situação muito específica desta nossa profissão, onde, para exercê-la, perdemos dignidade e não somos protegidos por um Estado que se auto intitula de Social/Providência. Dá-me a impressão, inclusivamente, que ainda ninguém se lembrou deste pequeno pormenor que aqui expus. Porque quando falamos em funcionários públicos, falamos de uma generalidade de profissões liberais em que quase não se praticam os contratos a termo indeterminado, salvo as exceções que já estarão previstas, mas que, convenhamos, não se repetem com a mesma intensidade. Enfermeiros têm contratos de 1 ano, policias, médicos, administrativos, etc. Eu, concorro para horários temporários, como muitos, porque de outra forma não lecciono, mas isso implica que, muitas vezes 1 mês, 3 meses, 6 meses, sejam o nosso tempo de trabalho durante um ano letivo... mereceríamos uma pequena ajuda, um incentivo, para que eventualmente não olhem escandalizados para os professores dos seus filhos quando souberem que dormem no carro, que não almoçam ou comem uma sandes trazida de casa e, muito provavelmente, proporcionada pela mãe ou pela sogra em título de solidariedade. 

Junte-se à situação hipotética que expus, o facto de tão pouco tempo de trabalho não representar prazo de garantia para acesso ao subsídio de desemprego e de não termos uma indemnização ou mesmo um subsídio para garantir que, no primeiro mês sem vencimento imediato, nos consigamos deslocar para a escola, alimentar e pagar as nossas contas. Junte-se ainda o sofrimento de famílias em que ambos os cônjuges são professores ou ainda, onde os filhos lutam para ter acesso a bens essenciais (sim, há professores contratados que não puderam esperar o vínculo em prol da biologia humana e dos relógios biológicos, que, infelizmente, não param).

Quando falava em sacrifícios na carreira, nunca pensaria eu que teria de perder a minha dignidade para exercê-la. É uma reflexão que a sociedade terá de fazer, pois nós somos os futuros desgastados, deprimidos e revoltados mentores de uma geração crescente... pergunto-me eu: será isso que nós queremos?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Santiago pela lente







Alquimia da Felicidade

Descobrir o segredo, a fórmula que um qualquer alquimista tenha inventado para tornar a vida que, como um fardo, por vezes transportamos, não é fácil. Cheio de mensagens subliminares, cheio de metáforas só ao alcance dos mais hábeis tradutores das emoções humanas, de mensagens codificadas, de imagens cortadas a meio e de ideias fragmentadas está o segredo que compõe aquela tão procurada fórmula. Sistemas de equações, fórmulas físicas, caracteres gregos, claves indecifráveis... todas escondem o segredo que todos ansiamos descobrir.

A verdade é que nunca somos felizes, porque expectamos muito mais que o destino nos pode porventura oferecer, queremos sempre mais e melhor, tudo o que possuímos nunca chega, porque  queremos sempre o que os outros têm e caímos no erro de ansiar mais os sonhos e concretizações forjados pelos demais do que as nossas próprias fantasias... até que perdemos a identidade e não sabemos mais o que nos faz feliz. Ansiamos o que não é nosso e nunca há-de ser, aquisições, que mesmo concretizadas, não sabemos se nos levariam até às passagens onde reside a felicidade.

Muitos de nós chegam ao fim dos tempos sem cumprir sequer um sonho próprio, que não tenha sido manipulado por uma sociedade de hábitos rotineiros, iguais e maneiristas.

Perdemos tanto tempo nessa busca infrutífera, que nem sequer nos apercebemos que, afinal, muitos estiveram vazios e nós cheios. Podem não nos ter dado os sonhos, mas deram-nos as ferramentas para que as soubéssemos utilizar. Porém, perdemos tanto tempo nas outras conquistas que nem exploramos o que nos foi dado à nascença e que permitiria conseguir concretizações muito mais significativas do que as que a riqueza material garante…

Num período em que quem tem o poder são os senhores do dinheiro, há que olhar para os nossos instrumentos e tocá-los numa composição única e irrepetível. 

Não atingiremos o poder soberano, certo é, mas a imortalidade… qual destes sonhos afinal será o melhor?




quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O que não se sabe e fica sempre por dizer…



Com os últimos cortes e após saber que os Senhores Deputados não serão abrangidos pelos mesmos porque obviamente ganham muito menos do que eu e não podem sobreviver sem os seus 6.700€ adicionais, só me apraz fazer uma série de especulações.

- 1: Qual é o estatuto especial da função pública em que os Deputados da Assembleia entram para que não tenham de abdicar dos seus subsídio? Não deve ser do mesmo grupo de contratação especial que os professores, pois esses, nem subsídio, nem emprego, nem caducidade, nem nada…

- 2: Este ano, se por acaso tiver a sorte de conseguir um horário de substituição por licença de maternidade, trabalho 5 meses, dividindo o auferido pelos restantes meses do ano, ganho pouco mais que 500 euros mensais… Porque é que eu perco os subsídios? Claro, claro, eu não formo as mentes do futuro…

- 3: O que vou perder sem o meu subsídio? Nada demais. Queria um exaustor, que ainda não tenho, mas parece que o azulejo vai ter de continuar a acumular a gordura. Prendas, nenhumas, só nos saldos. Comida, tudo bem contadinho e sem margem para os devaneios naturais da época festiva. Aquecimento: A casa precisava de isolamento, e a luz está muito cara para ligar o aquecimento. Parece que este ano é só mantinhas.

-4: De que é que o senhor deputado não pode prescindir? Dos seus empregados, das suas mordomias, de um Natal em grande. De prendas para os filhos como carros topo de gama… enfim, todo o tipo de primeiras necessidades que nós, meros mortais, não podemos criticar, porque afinal, há que apertar o cinto e, em vez de um Audi, o senhor deputado irá comprar um Toyota Prius para a sua filha… Já cá nós, não nos queixemos muito que poderemos sempre dar uma caneca para o chocolate quente (receita com água em vez de leite e imitação de pantagruel).

Diário de uma amedrontada



O sono já cai sobre estas quatro paredes, mas revisito o inevitável medo e receio do amanhã que urge, nestas horas em que o silêncio e a solidão dão espaço aos terrores que transporto. Tenho medo, apercebi-me hoje que talvez fosse isso que não me deixasse dormir, que me impede de respirar fundo, que torna soturnas estas horas negras e invade os meus sonhos sem me deixar descansar… É o medo que não me deixa dormir!

É bem certo que todos têm medo… da morte, da doença, da solidão… mas o meu medo é tortuoso. Não tenho medo do que poderá terminar com a minha vida ou o que a compõe, mas medo de não a poder levar avante e não consiga sobreviver sem que perca a minha dignidade.

Começou cedo este medo… começou quando naquela casa tão cansada, os gritos povoavam as divisões, os choros nos torturavam e abraçavam e, agarrados aos corpos flagelados, sofríamos no barulho daquela habitação, e no silêncio aparente que as paredes pintavam. Logo aí, sabia que queria ser diferente, procurar um novo caminho e encontrar um outro futuro.

Esse medo também me tomou, quando as maleitas não permitiam que fosse igual aos demais. Por entre dedos apontados, por entre discriminação e maus-tratos, ouvi um clamor surdo das poucas palmas que já batiam por mim e que, pelo destino, foram já roubadas.

Continuei a sentir esse medo enquanto crescia, embora a construção de um ser, de uma alma nobre com valores nobres me dessem a coragem para alcançar as minhas metas. Fui filha notável, fui aluna insigne e cumpri o primeiro sonho. O ingresso no ensino superior, levar-me-ia à próxima etapa na conquista de um novo presente, mas o medo, ainda assim me tomava. Os recursos não eram muitos, uma vez mais, tive de lutar por um lugar ao sol, por mais recôndito que fosse. Abdiquei de férias, abdiquei da presença dos amigos, abdiquei do descanso para terminar uma etapa. Terminei-a com inesperado sucesso… ainda assim, o medo não se dissipou…

Bati a todas as portas, recebi todos os tipos de nãos, abusos e dissimulações levianas. Fiz o que não queria ter feito, trabalhei onde nunca queria ter trabalhado, para que não fosse em vão este esforço para tentar continuar a perseguir os meus sonhos… até que perdi o rumo novamente… numa casa sem alicerces, onde fazia toda a força para que as paredes não caíssem, não resisti em gastar a única esmola que me era dada pelo Governo numa nova formação. Meta cumprida de forma brilhante… ainda assim, medos, ânsias, estaladas de luva branca, baldes de água fria… Até que finalmente fui o que sempre quis ser e que me inspiraram a ser: professora. Ensinei com avidez, absorvi-me numa vida tão transitória e artificial como esta para viver dois momentos de felicidade espontânea… Sem medos…

Agora, aqui estou, novamente, numa casa onde ecoa o silêncio e onde me toma a solidão. Resta-me apenas a certeza de que esta casa, esta nova morada, já se segura com alicerces perfeitos. Mas o medo, novamente o medo… que o que sou e quero ser corrompa os alicerces que tanto trabalho tive a construir. Que o amanhã não sorria e que a esperança, já tão débil, desapareça enfim e sobrevivamos como alienados, gente sem vida movida a uma qualquer energia alternativa que nos faz apenas andar por obrigação. Onde está o nosso direito à felicidade?

Foi inevitável, com as últimas notícias a que temos vindo a assistir, não voltar a experienciar esse medo que sempre me tem assolado. Mais forte que nunca… porque até aqui, a esperança num amanhã melhor, sempre me acompanhava. Agora, neste momento, quando tento perspectivar o amanhã, apenas a fobia permanece, vislumbro somente a escuridão, uma penumbra enorme, o infortúnio e a tristeza cerrada nos rostos dos que passam.

Não me tiraram apenas os subsídios ou o emprego, tiraram-me a capacidade de, ainda que transitoriamente, ser feliz. Tiraram-me a possibilidade de viver dignamente sem que tenha que bater na porta que tanto me agoniou. Tiraram-me a minha independência e a minha capacidade de sonhar com um futuro melhor, porque isso é uma ideia romântica e disparatada. Hei-de ser sempre a que nunca teve sorte, hei-de ser sempre a que é capaz mas não pode ser, hei-de ser sempre a que não conhece ninguém e, por qualquer estrada que siga, hei-de sempre ficar no mesmo triste destino.

Como vejo os próximos tempos: a minha casa (arrendada), o amor que me toma e uma triste sobrevivência. Trabalho incerto, 2 meses, 3 meses, quiçá, já será muito bom. Sem subsídio, sem indemnizações… resta-me fazer com que o auferido nesses poucos meses de trabalho, seja equitativamente dividido por todo um ano, sem devaneios, portanto.

Procurar outro emprego? Não penso noutra coisa… Mas as lojas, os cafés, os restaurantes e todos os trabalhos menores que procuro, estão tristes e taciturnos como eu… adivinhando as próximas dificuldades.

O que fazer? Sobreviver, sem a perspetiva ou ilusão de que possamos fazê-lo com felicidade, passando as necessidades que à nossa geração, como às outras, nos aprouve. A diferença é que, fruto da solidariedade, fruto da amizade, fruto dessa mesma terra que agora surge tão árida, nunca faltava comida na mesa que dispunham os nossos pais. Neste momento, neste exato momento, mais do que o medo de uma infelicidade eterna por incumprimento de sonhos e metas, surge o medo da fome, da necessidade e das provações. Para esta alma que lutou sempre por mais e que não vê agora qualquer outra possibilidade, este é o medo que mais me aflige nestas horas mortas… Nunca fui mais do que eu própria, nunca roubei ninguém, completei as minhas obrigações com sucesso e nada mais me resta que o medo da fome. Da fome de sonhos e da fome física…

Deste País, desta sociedade, nada mais restará para além de felizardos, lambe botas, apadrinhados e pobres, pobres como nós, que teríamos potencial para calar um mundo, se não nos tivessem roubado as armas e o ânimo que nos movia. Sou, já hoje, amedrontada, desprovida de sonhos, alienada e um autómato da sociedade que me comanda. Quando for trabalhar, farei o que me mandam, no tempo para o qual me pagam, com o sorriso amarelo que trago, com pouco afinco, porque dividindo três ordenados por 12 meses, sou muito mal paga à hora. Aos meus alunos, desejo sorte, porque não serei eu a inspirá-los… Não da forma como perspetivo o futuro e como sou valorizada… de nada vale, somos meros joguetes, um número. Se o trabalho ficar bem feito, mais ou menos ou muito mal feito, de nada interessa, para o ano, outro número se ocupará dessa tarefa. Para mim, peço apenas a dádiva de um emprego, um trabalho, o que lhe quiserem chamar, para que um ordenado não tenha de pagar a renda, as contas e o sustento e fiquemos, para sempre, nesse buraco enclausurados das felicidades que os demais gozam… Quem me dera não ter estudado, não teria ambicionado a felicidade que nunca tivera nem tenho agora.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O valor das coisas

Os tempos repetem-se, ciclicamente vivemos e revivemos o calendário para, por fim, voltarmos ao início comprazidos pela sucessão de dias que nos remetem para um passado, que nos entregam um momento presente e nos oferecem um futuro. Tempos após temos, anos após anos, meses após meses, dias após dias sucedem-se, mas não se repetem porém as vivências. Porventura é essa condição que nos afasta das máquinas, que nos torna inteligíveis e sensíveis a um mundo exterior que não podemos controlar.

Uma vez mais uma experiência termina, quase ciclicamente na mesma data que outras semelhantes. Mas nunca iguais… mudam-se as gentes, mudam-se os rostos, mudam-se as circunstâncias e até mesmo os laços. E uma vez mais fica a nostalgia e o desejo, embora utópico, de retomar os tempos já passados, de agarrar esse pretérito e torna-lo presente e até mesmo futuro. Mas muito dificilmente a experiência se repete e nunca voltaremos a ser tão felizes quanto da primeira vez. Restam as memórias e a ânsia de que, quando o mundo completar as voltas necessárias, nos voltemos a encontrar e a partilhar dos mesmos sorrisos que agora gravo na memória… que essa sim, permanece, muito menos volátil do que o tempo.

Obrigada por mais um ano, por um ano excecional que ajudaram a construir. Obrigada pelos momentos. Obrigada pelo companheirismo, altruísmo e compreensão. Obrigada pelos laços desprovidos de qualquer interesse secundário. Obrigada por acreditarem em mim e me fazerem acreditar que posso ser melhor e atingir todo o meu potencial apesar das dificuldades que sempre enfrento…

Fico grata por, embora as minhas experiências serem tão fugazes, valerem sempre a pena e deixarem sempre o desejo de voltar a repeti-las…

E embora já muito repetida a frase, não vejo outra que se adeque tão bem ao que tenho vivido como a seguinte:

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
(F. Pessoa)
Aos colegas da EB 23 B.C.; 
aos colegas das escolinhas, 
aos meus meninos que fazem sempre valer a pena a experiência...