quinta-feira, 24 de setembro de 2009

À espera do tempo

Porque o tempo insiste em não passar e demorar, aqui, neste meu pedaço de mundo... vou contemplando a vida que passa lá fora.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Manual da Revisitação

Dou comigo e com os meus muitos eus, sempre a revisitar os locais onde outrora fomos felizes...

A abrir as portas sem trinco,
a olhar os poços sem fundo
e a galgar os caminhos sem retorno.

A olhar a sombra do que éramos na parede escura
E a apreciar a imagem irreflectida no espelho antes quebrado...

Relembro o que fomos, recrio-o no presente e projecto-nos para lá do que somos, num futuro que ainda desconhecemos.

A. Rocha
9 de Setembro de 2009


Picasso: Girl Before a Mirror

A "planta mesquinha"

"Saber que será má a obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. Essa planta é a alegria dela, e também por vezes a minha. O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns momentos de distracção de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou me não basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida.
Um tédio que inclui a antecipação só de mais tédio; a pena, já, de amanhã ter pena de ter tido pena hoje – grandes emaranhamentos sem utilidade nem verdade, grandes emaranhamentos...
... onde, encolhido num banco de espera da estação apeadeiro, o meu desprezo dorme entre o gabão do meu desalento...
... o mundo de imagens sonhadas de que se compõe, por igual, o meu conhecimento e a minha vida...
Em nada me pesa ou em mim dura o escrúpulo da hora presente. Tenho fome da extensão do tempo, e quero ser eu sem condições."

(F. Pessoa, Livro do Desassossego)


Por isso trato desta minha "planta mesquinha." Porque é a minha alegria e a de, embora parcas, algumas almas que a tocam e que, com ela, rejubilam ou se compadecem. É a projecção mais ambiciosa do meu ser, das emoções que por vezes enuncio na complexidade de um lexema. Por isso me entristece toda a palavra que se disse e se não disse e que a tornou ainda mais débil naquele vaso que ocupa, em lugar nenhum, aqui, neste pedaço de mundo. Tudo o que atente, àquele reflexo espelhado do que sou ou que almejaria ser, do que sinto ou simplesmente gostaria de não sentir, da complexidade do meu âmago, da futilidade dos meus pensamentos, da expressão efémera das minhas palavras inúteis e sem arte, torna-me mais fraca... Dissertações diarísticas ou não, esta é a planta que projecta a minha sensibilidade, a debilidade da minha alma.



Salvador Dali. "The Three Sphinxes of Bikini", 1947

sábado, 5 de setembro de 2009

Augúrios do Rock e da Amiga

Cara Senhora Ministra da Educação:

Depois de tanto sofrimento e de chicotada psicológica para com a classe do professorado (como se não bastassem as malas às costas, a subida na carreira é quase uma utopia - e perguntamo-nos nós: "Valerá a pena andar com as malas às costas?") vieram boas notícias: a promessa de um cumprimento mais activo do DL 3/2008 de 7 Janeiro, em que é definido o funcionamento da Educação Especial nas escolas regulares e, lato modo, abordada a temática da Inclusão das crianças com NEE no ensino regular. Tendo o normativo como premissa, é louvável que a Senhora Ministra prometa que serão abertas tantas vagas para a Educação Especial quanto as escolas necessitarem,


para além das mil que o senhor Valter Lemos promete também abrir ainda antes do início do ano lectivo.

Sim senhor, bom para as crianças com NEE e bom para os professores da educação especial, que vêem, assim, a sua vocação/função ser valorizada. Mas teria sido optimizada esta medida se as vagas tivessem ido a concurso quando efectivamente eram necessárias, no entanto as manobras de diversão para vincular o menor número de professores possível e para primar pela precariedade no interior da carreira docente, optando por anunciar as vagas a concurso apenas no período de contratação pelas necessidades transitórias e OE deixa um ligeiro cheiro a esturro. Agora, resta também trabalhar com a maioria, isto é, não olvidar que o descontentamento dos professores de outros grupos pedagógicos possa interferir com a sua vida profissional e até com a sua estabilidade emocional, prejudicando, consciente ou inconscientemente, as turmas que têm a seu cargo. A educação é a base de todo e qualquer ser humano e cidadão, se lhe tirarmos este valor que lhe foi conferido até mesmo pelos povos da antiguidade, perderemos bons humanos e bons cidadãos.

Apesar de tudo, num período pautado pelo desrespeito pela classe dos professores e pelos próprios alunos que acabaram por sentir o descontentamento dos educadores na pele, valha-nos o respeito por aqueles alunos que mais precisam de um acompanhamento profissional... Seguindo este caminho, a Inclusão social deixará de ser uma ideia para passar a ser uma realidade. Apesar de se denotar um enorme carácter de propaganda política nesta medida, ela é efectivamente urgente e se muitos julgam ser ineficaz, não o é, pois ficaram 6 por colocar nas listas, mas ainda muitos que, por motivos vários, viram a sua candidatura ser excluída e aqueles que terminam agora os cursinhos e que estão bem aptos e sedentos de entrar no mundo da Educação Especial.

E BIBA AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS!!! (Começo a ponderar a criação de uma moção: legislativas todos os anos - e, cerca de dois meses antes, veríamos o País andar para a frente, ai se não veríamos).


Direitos reservados a "We have Kaos in the Garden" (http://wehavekaosinthegarden.wordpress.com)

Cansaço de não fazer nada...

É bem verdade que a monotonia entorpece a mente, mas se entorpece... "O cansaço de não fazer nada" deve ser uma das piores maleitas da humanidade e se bem que a expressão parece um tanto paradoxal, a verdade é que nos dá conta de uma realidade mais que comprovada... "o cansaço de não fazer nada" existe mesmo.
Entre a chegada de férias, reformulações do quarto e visitas relâmpago às festas da Senhora da Agonia em Viana, idas ao rio e visitas à querida escola para levantar os menos queridos papéis para apresentar no tão nosso conhecido IEFP... chegou a monotonia, as idas intermitentes ao PC para preencher mais um bendito formulário electrónico das OE são o ponto mais alto de um dia marcado por pensamentos como: o que vou fazer para jantar? De que cor pinto as unhas? Será que tenho dinheiro até o fim do mês? Enfim... tudo isto cria uma enorme impavidez e por mais que a pergunta - "Já fazias o projecto para a Educação Especial, não?" - lateje neste cérebro esmiuçado, a vontade é muito pouca, a preguiça muita e inventam-se sempre desculpas e actividades paralelas para não nos embrenharmos em tamanha responsabilidade... Mas é hora de pormos mãos ao trabalho e com o Pré-projecto bem encaminhadinho, não há limites ou desemprego que pare esta minha nova paixão aliada a uma já bem antiguinha... a Educação Especial e a música(terapia).