terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Mythic Sounds VIII

Acho que esta já a tinha por aqui, se não, ainda melhor. A verdade é que me pareceu tão adequada ao post anterior. Acho que até poderia ser o mais atual hino ao êxodo docente :) Pelo menos a primeira parte :)



Elephant Gun lyrics
Songwriters: Condon, Zachary;

If I was young, I'd flee this town
I'd bury my dreams underground
As did I, we drink to die
We drink tonight

Far from home, elephant gun
Let's take them down one by one
We'll lay it down, it's not been found
It's not around

Let the seasons begin
It rolls right on
Let the seasons begin
Take the big king down
[From: http://www.elyrics.net/read/b/beirut-lyrics/elephant-gun-lyrics.html]

Let the seasons begin
It rolls right on
Let the seasons begin
Take the big king down

And it rips through the silence
Of our camp at night
And it rips through the night
[Incomprehensible]

And it rips through the silence
Of our camp at night
And it rips through the silence
All that is left is all that I hide

As calinadas do Coelho


Assistia eu, ontem à tarde, ao programa “Eixo do mal”, quando, mesmo antes do genérico, os nossos caros convivas passam o mediático vídeo do nosso Primeiro Ministro a incentivar a população de professores desempregados a abandonar o país. Pronto, vamos ser sinceros, após alguns segundos de silêncio de estupefação, ainda na esperança de vir a aperceber -me de que, afinal, era uma brincadeira de mau gosto… cheguei à conclusão que não era.

Ora, acerca deste assunto, já correu muita tinta e ainda correria bastante mais da minha parte se eu, como professora na iminência de abandonar o meu país, me apetecesse dedicar o meu precioso tempo de desemprego e de Dolce Fare Niente a verdadeiras abéculas ambulantes incapazes de fazer o seu trabalho. Daria apenas um conselho bastante precioso ao Senhor Primeiro Ministro: ir rever, portanto, os estatutos das suas funções, pois parece-me um pouco confuso. Julgo que, neste momento, o Senhor Pedro Passos Coelho parece apenas uma versão falsificada do “Velho do Restelo” com um grande decréscimo no domínio da sapiência.

Se conseguirmos recuar um pouco nos tempos, podemos, sem qualquer sombra de dúvida encontrar a raiz deste problema: a má governação (onde é que já terei eu ouvido isto?). Absorvidos pela abundância de subsídios externos para a formação, não há curso que não se abra em Universidade alguma do país, independemente, ou não, das suas saídas profissionais serem poucas, nenhumas ou escassas. Toca a produzir licenciados e professores que não servem absolutamente para nada. Venham eles, se não estiverem nas escolas, farão muita falta para educar a cidadania atrás de uma caixa de um hipermercado qualquer. Mas agora que o país se encontra em igual estado de lotação numa generalidade profissões, o problema que já existia, agudizou-se  e não há culpados, a não ser as pessoas que investiram trabalho, esforço e 900€ anuais de propinas que se foram fazendo render num cofre qualquer. Portanto, um Governo que não legislou currículos de ensino superior, que não estudou as necessidades laborais de um país e que formou uma série de profissionais qualificados que estão a ficar num armazém qualquer de stocks excedentes, claro que não há-de ter solução para este problema senão a mesma que se repete ao longo da história: queimar os excedentes, ou vendê-los a preço de saldo. Ora, como já não restam muitos lugares de professores a dar aulas quase de borla, resta livrar-nos do que sobra, vamos mandá-los para o Brasil.

Tendo em conta os recentes cortes no Ensino de Português no Estrangeiro, parece-me um dos maiores absurdos linguísticos dos últimos tempos, este incentivo. Citações quase comparáveis às do nosso caro João Pinto.

Admitamos que a culpa do excedente, não só de professores, como de licenciados nas mais diversas áreas, foi de erros de má governação e de fraca fiscalização da gestão do Ensino Superior em Portugal, portanto, resta a quem fez a merda, resolvê-la. E se porventura o senhor Primeiro Ministra julga que efetivamente a solução para este problema passa pela emigração, seria um ato de extrema boa-fé e de redenção esperada, criar condições para a mesma, criar protocolos com os países, proteger os professores que para tal se disponibilizem e conferir os direitos de trabalho equivalentes aos profissionais a lecionar em território nacional. Pois, desculpem-me, mas parece-me um grande grau de ingenuidade e de ignorância, pensar que os professores que estão a emigrar para outros países sem a proteção do governo, estão a dar aulas. A maioria, senhor ministro, está na Suíça a trabalhar numa fábrica de relógios qualquer.

Outro absurdo linguístico: se a malta vai toda embora, quem vai fazer a prova de ingresso á carreira? AhAhAh E só para terminar, com o aumento das turmas no ensino básico, considero que os professores têm excedente de alunos, com base nestas afirmação, julgo que, após prova de competências, se escolham os 5 piores alunos de cada turma e que se incentive à sua emigração para fazerem asneiras num outro país qualquer, onde serão bem recebidos... tenho dito.

P.S. Melhor ainda, o Natal é quando o Coelho (da Páscoa) quiser.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mythic Sounds VII

Tenho a certeza que nem todos serão capazes de sentir o prazer que uma boa música é capaz de despoletar em nós. Os sentidos despertam, a mente transporta-nos para qualquer outro local que pretendamos ir. Voamos, sonhamos, a pele de galinha surge e somos absolutamente quem queremos ser. A quem consegue fazê-lo, felicito e partilho...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aspirantes a quase nada

Outro que já viu a luz do dia e já pode vir para aqui :)

Sonhar, qualidade tão própria dos humanos. Sonhamos enquanto dormimos, sonhamos enquanto acordados. É inerente à nossa própria existência e, grande parte das vezes, é culpa do nosso subconsciente que, para mal ou para bem, simplesmente não controlamos. Já o poeta entoava que o “sonho comanda a vida” e, infalivelmente, estava correto. Vivemos de projetos rompidos ou não, de planos a longo e a curto prazo, de projeções mais ou menos efémeras que, de uma forma ou de outra, nos motivam todos os dias, a enfrentar, com um sorriso, por vezes amarelado, as arduras que somos obrigados a ultrapassar.

Nos últimos tempos, muito se tem discutido acerca da cultura dos portugueses e da sua postura de hipotética passividade perante as problemáticas que se somam a cada segundo que passa. E é fácil assumirmos uma postura crítica perante algo que, no fundo, todos fazemos. Pois, evidentemente, acomodamo-nos, permanecemos em negação uma boa soma de tempo, esperando que, por qualquer arte mágica ou mera alquimia, os problemas desapareçam. E esta, meus amigos, não é uma qualidade portuguesa, mas humana e, o sonho, é invariavelmente, a manifestação mais rudimentar e ancestral dessa nossa fuga, ainda que momentânea, à realidade.
De acordo com Eduardo Lourenço, reside ainda, em nós, uma esperança, um sonho eterno de que tudo, eventualmente, se alterará um dia, que os problemas, mais tarde ou mais cedo se resolverão, que D. Sebastião ressurgirá num dia de nevoeiro e que o V Império ganhará então vida. Planos megalómanos, forças hercúleas, ideias disparatadas até, tornam-nos, não num conjunto de pessoas em devaneio, mas num povo provido de um motor interno para superar obstáculos, com melhor ou pior cara. "Nação pequena que foi maior do que os deuses em geral o permitem, Portugal precisa dessa espécie de delírio manso, desse sonho acordado que, às vezes, se assemelha ao dos videntes e, outras, à pura inconsciência, para estar à altura de si mesmo. Poucos povos serão como o nosso tão intimamente quixotescos, quer dizer, tão indistintamente Quixote e Sancho. Quando se sonharam sonhos maiores do que nós, mesmo a parte de Sancho que nos enraíza na realidade está sempre pronta a tomar os moinhos por gigantes. A nossa última aventura quixotesca tirou-nos a venda dos olhos, e a nossa imagem é hoje mais serena e mais harmoniosa que noutras épocas de desvairo o pôde ser. Mas não nos muda os sonhos" (Eduardo Lourenço)
A triste realidade com que, forçosamente nos deparamos, essa que nos torna, pela primeira vez, um dos povos mais tristes da Europa, ainda que com um sol de Inverno a bater-nos na cara, ainda com a hospitalidade das nossas casas e com a boa comida que insistimos a servir, mesmo quando pouco ou nada nos sobra já. Esta não se torna, porém, e a na minha visão um tanto imparcial, numa questão digna de crítica maliciosa, mas consiste apenas num mecanismo de defesa, de resiliência, face as dificuldades que somos obrigados a enfrentar diariamente. Se temos vindo a ser passivos? Concordo plenamente. Arrisco-me a afirmar que há, realmente uma necessidade iminente de reclamar os direitos que, com base em lutas quase intemporais, foram conquistados partindo da força, visto que a via democrática apenas se tem vindo a revelar uma forma dissimulada de ditadura onde valem mais as trocas de favores entre os que governam do que as necessidades de um povo. Mas igualmente sei e considero que não é criticando a capacidade onírica de um povo que sempre se alicerçou na sua virtude inqualificável de sonhar, que construiu um Império com base no sonho, que descobriu um Novo Mundo com base nas suas fantasias e que se rebelou com cravos na mão, que conseguiremos a união que necessitamos para efetivamente nos tornarmos quase invencíveis. E não ousem dizer-me, a mim, portuguesa nascida e criada, que isso são recordações românticas, e que, de nada nos servem na realidade atual, porque, quer queiramos, quer não, estão aquelas situações inculcadas histórica e culturalmente em cada um de nós, como se de uma marca genética se tratassem e dão-nos esta surpreendente probidade de sonharmos acordados, para além de fronteiras físicas, psicológicas e racionais, acreditando, a todos os dias que passam, que o dia de amanhã será melhor. Resta-nos apenas utilizar essa capacidade para nos tornarmos mais criativos e mais ativistas perante a realidade que, o dia de hoje, nos apresenta tão sombria. 


El Barco - Salvador Dali