domingo, 18 de janeiro de 2009

"Road to nowhere"


O sol crestante reflecte no meu rosto, como fogo incandescente apontado para mim, e tento afastá-lo do olhar cerrado, com a sombra diminuta deste braço já cansado.
E o suor percorre o meu corpo à força de rios abundantes, corrente que não cessa enfim...

Detive-me neste caminho deserto, onde as plantas já não sorriem, os bichos já não se alegram e os Deuses já não mais me contemplam. Exausta observo o caminho que me conduz a lado nenhum... Inerte busco o paraíso onírico que julguei ver, mas que impiedosamente se desvaneceu para lá da quimera.
Derrotada, extenuada, cansada de sofrer... desisti... deixei-me sucumbir no meu próprio sofrimento e o vigor das lágrimas, a respiração arquejante e a lassidão forçaram-me ao chão.
Com o rosto ferido de tanto rastejar, parei... contemplo apenas o vazio, a fronteira entre o céu e a terra, que já não existe, e anseio que a noite solidária me venha buscar. Enquanto me desapego deste vulto que somente sou, olho para trás e vejo apenas um caminho tumultuoso e errante, que me trouxe o conhecimento de uma existência de alguém que não mais suporta tanto humanismo cerrado num corpo sufocante. E de tanto sentir e de tanto sofrer... as forças esgotaram-se enfim...

No caminho que tracei já tudo é nada - nada é trilho, tudo errâncias e nenhumas as certezas... aceito agora qualquer desígnio... fiquei suspensa num mundo que roda sobre si mesmo e nada do meu se move em favor a mim. E anseio apenas que "o que for meu a mim venha", porque nada mais destes punhos reflecte luta, a não ser a travada no passado.

Sucumbi a todas as batalhas perdidas... fecho-me então no dia em que larguei os sonhos, o ânimo, a força e a razão.
Fechei os olhos por fim... na esperança de, neste corpo, a minha existência não mais tornar a mim...


Imagem de autor desconhecido
"Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme"
Lisbon Revisited, Fernando Pessoa

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