quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Basta de atirar pedras (09/04/2008)

Vinte e três anos não são uma vida, em termos de experiência, pouco ou nada transporto, mas já vivi o suficiente para passar a acreditar que o ser-humano perdeu a sua humanidade, tornando-se um ser frio, que acha ser demasiado custoso, olhar para o lado para ver quem pisa na busca pelas suas concretizações individuais.

Foram precisos vinte e três anos, muito tempo, para perceber que o humano perdeu a tolerância, ganhou em orgulho e todas as qualidades que o distinguia de um animal "dito" irracional se perderam e o homem não age mais do que em conformidade com os seus interesses básicos e a satisfação das suas necessidades pessoais. Mas o que doeu mais perceber, foi que os seres humanos não se apercebem que erram, que faz parte da sua natureza e que muitos pensadores dizem que são esses erros que nos permitem progredir nessa dita humanidade [perdida].

Eu admito... eu erro, torno a errar até me aperceber do que fiz, humanamente peço desculpa.

Admito ainda que, em momentos mais irracionais, corro desenfreadamente atrás do que julgo ser a minha felicidade e constituir os meus objectivos, mas calquei alguém pelo caminho, porém não raramente, olho para trás e tento redimir-me, da melhor forma que posso.

Admito, que nas minhas palavras e nas minhas acções, quantas vezes irreflectidas, magoo aquela pessoa outrora importante, mas tento novamente voltar atrás... Mas as pessoas perderam a humanidade, a tolerância, a solidariedade pelos pares... não há espaço para erros e eu sou apedrejada por essas frias sentenças que todos os dias me atacam e me ferem sempre um pouco mais... Por vezes, palavras e actos podem ser bem mais áridos do que pedras e ferir-nos muito mais profundamente do que aquelas...

Mas ressinta-se todo aquele que atira pedras e cometeu erro igual ou pior.

Ressinta-se todo o humano desprezivel que renega a fraternidade que deveria existir entre os seres, e trata aquele par como lixo, difamando-o, ferindo-o, transformando-o aos olhos de uma multidão, sem que ele possa eventualmente defender-se dos ataques que lhe são infligidos.

Ressinta-se todo o traidor que não hesita em desrespeitar a imagem de alguém, apenas porque errou.

Tu, que recusas a palavra, é que não mereces o respeito... mas ainda assim to concedem pobre humano, para que não deixes de acreditar na humanidade, como o miserável que é apedrejado por ti já deixou... Mas agora acabou, basta de atirar pedras... pensa no que erraste e guarda pelo menos uma para ti...

"Assim, não sabendo crer em Deus, e não podendo crer numa soma de animais, fiquei, como outros da orla das gentes, naquela distância de tudo a que comummente se chama Decadência. A decadência é a perda total da inconsciência: porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia."Bernardo SoaresLivro do Desassossego

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