quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sanguessugas: parasitas ou detentores de benefícios medicinais? (22/03/2007)

Ao ver uma postagem dirigida à minha pessoa no blog de um amigo, senti-me emocionalmente impelida a dar-lhe uma resposta.

É verdade, não sou Sanguessuga, mas Rocha, mas ainda assim, sinto que há já muito te conheço, como se de um laço familiar dependesse a nossa amizade... Mas pelo contrário, não foi há muito que te conheci, nem sequer temos qualquer ligação familiar (apesar da coincidência do "Rocha").

Enfim... mas não foi isto que nos uniu, e penso que os leitores deste blog têm todo o direito de conhecer a nossa insólita história...


Há quanto tempo nos cruzávamos, ora no Departamento de Línguas, numa ou outra aula que tínhamos juntos, ora na estação do comboio, ou mesmo no próprio comboio... mas nunca trocámos uma palavra sequer, penso até que nunca trocámos um olhar, por mais de soslaio que este surgisse... mas na verdade, eu sabia que existias, eras sempre o "bom rebelde" que insistia em chegar atrasado às aulas e, mais tarde, ao fim do dia, cruzáva-me contigo e pensava: "Olha, foi este o que chegou atrasado à aula!"


A verdade é que nenhum de nós se falava e apesar das rotinas que nos poderiam aproximar, insistimos num estado de perfeita apatia e assim continuámos durante muito tempo...

Foi preciso chegarmos ao último ano da licenciatura para, de quando em vez, nos sentarmos perto um do outro e, timidamente trocarmos umas palavras um tanto monossilábicas... até que um de nós perguntou:"vais de comboio embora?" - e assim iniciamos, nesse dia, um ritual que se iria repetir até ao fim do ano e que nunca mais me esquecerei.


Na rua, muitos eram os aveirenses que olhavam para o nosso grupo de esguelha, ora pelo barulho, ora pelas gargalhadas que entoavam pela Avenida Lourenço Peixinho e que, neste momento em que as recordo, são a banda sonora das minhas boas memórias dos meus anos nessa cidade.

No comboio, muitos eram os conterrâneos que olhavam para a nossa jovialidade e desinibição com uma certa nostalgia e saudosos do tempo em que podiam rir e falar assim, sem serem censurados, e não eram poucas as vezes que podíamos vislumbrar um sorriso acanhado nas faces de alguns.


Agora que recordo estes dias, noto quanto foram importantes para mim... quantas vezes aqueles 45minutos de comboio me exorcizaram e por momentos me fizeram sentir feliz, mesmo quando o não sentia no meu âmago...

Aqueles 70 Km deixaram então de ser tão morosos e, nessas alturas, muitas foram as vezes em que vi no tempo um inimigo que, de livre arbítrio, teimava em voar e passar por nós como se tivesse vida própria, escolhendo quando galopar e quando nos fazer esmurecer com a sua tardança...


Hoje e muitos dias, quando entro no comboio quase vazio e me sento no canto mais recolhido que encontrar, penso nesses momentos e recordo-os com um enorme carinho, pois foi num clima assim que encontrei talvez o único amigo dos tempos de Universidade... tu sim, Sanguessuga.


Por isso acabo a minha dissertação afirmando sempre (e com argumentos válidos), que a Sanguessuga não é somente um parasita, também suga o que de pior há em nossos corações para dar espaço para deixar muito boa gente entrar...


Um beijinho bem grande!





Tiago e Pedro (grandes amigos)
Ah! Lembram-se??? ;) Bons tempos!!

P.S. Peço desculpa a espíritos menos susceptíveis às emoções humanas pelo sentimentalismo desta minha postagem, mas teve de ser...:)

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